sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cada Quando

Faz chuva
cai chuva
é chuva

Chove em uma face clownesca
faz clown em um vento que cai

Venta chuva
calma chuva
Chove

É
calma!
Hoje, sol

Gira
A luz o faz girar
Fez chuva
Foi chuva
Caiu chuva
Calma!
Girasol

Ensolara uma face clownesca
Fez-se clown em um giro do sol.

Pâmela Raizia

terça-feira, 24 de abril de 2012

Lixo extraordinário - (2010)

São suspiros, arrepios e lágrimas após assistir esse documentário. Quanta coisa passa pela cabeça. Quando começo a pensar sobre o quanto produzimos lixo, e o quanto somos lixos produzidos pela sociedade. 

Penso sobre o “agora” da vida das pessoas que participaram do documentário. Por mais que tenha um feedback no final, contando sobre como estão, não são só aquelas que apareceram, que tiveram o contato com uma outra realidade. 

São dois caminhos que mexeram imensamente comigo: a falta de consciência sobre o que consumimos e descartamos. E, como fica o outro, quando sofre uma interferência de um universo totalmente diferente do seu. 

Quanto ao primeiro questionamento, fico com medo de amanhã voltar a cometer barbaridades diárias que o consumismo me ensinou. Sinto medo da minha própria consciência, que levou um choque, e precisa no mínimo se sentir responsável por tanta asneira que comete nesse ciclo consumista do qual faz parte. 

Sobre o olhar de quem faz um trabalho interventivo como este, que acaba por envolver, criar laços e mudanças com as histórias e pessoas, é algo extremamente delicado. Quando Vik Muniz conversa sobre esse assunto com a mulher de quem não me lembro o nome, alguns pontos são levantados e são muito importantes. Ela questiona sobre o choque de realidade após esse trabalho, para as pessoas que vivem no/do aterro. Ele diz que se é possível mudar a vida pra sempre, porquê não. Achar que sabe o que é melhor, o quanto a ação vai repercutir, é um passo arriscado. 

Foi por achar que a bandeira levada era o desenvolvimento, que vários povos sofreram e sofrem exploração. Porém, é por não fazer nada que outros estão estagnados em situações miseráveis. Talvez, cada situação mereça uma lente própria, singular, capaz de visualizar nos mínimos detalhes de que situação se trata. Com certeza há sempre riscos de equívocos: as lentes podem se sujar, quebrar e arranhar. 

Sinto-me diferente. Isso é um desabafo pós-filme, sem muita preocupação com coerência. Espero dormir e sentir o efeito de tanta coisa vista nessas quase 2 h. Fico pensando que “99 não é 100” e que eles, grandes trabalhadores, que lutam diariamente, “não são catadores de lixo, mas de materiais recicláveis”. 

Sendo assim, como faço para achar o caminho de catar o que precisa/deve/merece ser reciclado dentro de mim? Como reverberar isso para a minha vida e evitar o acúmulo de lixos, dentro e fora dessa vida que denomino eu? Não sei por onde começar, mas talvez seja pela incerteza de um começo que Gramacho é o maior aterro sanitário do mundo. É por não saber para onde vai nosso lixo, que o criamos. Alimentamos a logística do consumo diariamente e no final, não sei se jogamos mais lixo no cesto ou dentro de nós próprios. Com essa lógica, o Gramacho perderá seu posto para o ser humano. A diferença é que não sei se daqui um tempo será possível reciclar o humano, talvez dê para reaproveitá-lo, para mais lixo ser. 

Pâmela Raizia 25/04/12

terça-feira, 8 de junho de 2010

Dose de reflexão

Direciona-se por entre as curvas do corpo a energia da experiência da imobilidade. Um despertar... A impossibilidade dessa imobilidade representa a falta de domínio sobre poesias desse corpo, já que a mente insensata movimenta o tempo todo, tão quanto os órgãos que nos deixam vivos...
O tempo todo agregando às ações, aos pensamentos – coisas (verbalmente nossa moral nos repreende expressar sobre a maioria de nossos agregados)... Querendo fulminantemente mergulhar em um caminho com uma volta no mínimo imprecisa.
Nesse momento as articulações se travam, a boca resseca e os olhos desejam fuzilamento!
A destruição pode ser vista poeticamente, por quê não?
É só colocar uma pitada de argumentações baratas, que destruir vira acessório de uso habitual. Destruir passa a fazer parte do arsenal de compensações dadas à sua mente por estimular as "coerentes" atitudes cotidianas...
A mesquinhez astuta deixa uma gota de inocência... O que torna mais fácil o desprezo, a indignação e sobretudo o reconhecimento do (eu) fazer parte de tudo, que reverbera nos prazeres e dores de viver.
As relações estão desacerbadamente inconsequentes, sem questionamentos, sem escrúpulos... São relações onde os ditos ético e moral são (re)formulados por necessidades hipócritas de poucos, esses que quando ostentam regras cobrem com um lenço escuro-obscuro o espelho à sua vista, pois de modo algum aquilo poderia intervir em sua puril integridade.
Não saberia dizer se nas mãos de artistas e escritores estariam somente a sublimação dessas vivências lançadas no inconsciente (momento de contato primeiro com Freud), mas sei que somente dessa forma consigo expressar um pouco do que percorre fervorosamente em minhas veias.
É como se não bastasse olhar nos meus olhos e dizer que terei um bom dia...Isso tem lá sua importância, já que de alguma forma devo reconhecer que o desejo de um bom dia não é um egoísmo, mas talvez uma maneira esperançosa de estar no mundo, de estar em vida e sobressaltar as artimanhas humanas, as artimanhas de minha espécie.
Driblar pensamentos, seus e alheios, é um exercício diário. Até uma folha de árvore que cai provoca infinitos anseios que pulsam no pensamento, declinam sobre a emoção e reverberam em uma reação, por mais sutil que seja. Agora pensar em estrondosos acontecimentos, nos quais uma massa inteira reage ao mesmo tempo, é realmente concluir sobre o quanto estamos vulneráveis ao desconhecido.
Afinal, conhecemos cada dia mais sobre todo o universo que nos cerca, mas o universo interior, o universo humano, de maneira cada vez mais imensurável é perigosamente desconhecido...
Para que conhecer o interior, se movendo uma folha eu consigo mobilizar uma multidão a meu favor?
O domínio se faz assim, dos poucos que conhecem a sua especie e usa de seu conhecimento a seu favor... O difícil nesse sentido, além da tênue possibilidade do egoísmo engolir o dominador, é ver-se no lugar do dominado... Ver o quanto esses papéis são invertidos o tempo todo, e questionar se realmente o equilíbrio ainda tem espaço em alguma existência...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Encontro...desejos

A gravidade impulsiona o movimento.

O desejo parece movimentar-nos também dessa forma:

Denso ou leve... fluido.

Chega-se a um ponto

No qual, várias outras possibilidades aparecem...

Já se confundem desejo e gravidade.



O movimento acontece.

Determinados lugares cedem:

arredam-se e espremem-se.

A ação realiza-se

e um emaranhado de (micro)fluidos

substancializam-se interiormente...



A hora da subida parece contradizer

com a gravidade, mas

nesse ponto percebo...

O desejo está do outro lado da balança,

como se tivesse vontade própria

e não precisasse impulsionar

em uma única direção...



O corpo de desejo sobe aos poucos,

em um diálogo com a gravidade.

Em certo momento se olha,

se percebe...

Houve uma reestruturação.

O corpo, o afeto, os desejos

já não são os mesmos...

Foram e continuarão sendo

transformados...



...Regidos pela mesma gravidade

que agiu no primeiro instante vital...

No atemporal - DESEJO.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Agora...sinto

Dois corpos se encontram no silêncio,
Meus olhos percorrem, desejam...
A cartografia marcada pela solidão
De um mero espectador
sentindo falta...
Sentindo ausência do que ainda não veio,
Sorrindo um sorriso impreciso.

Um diálogo da chave
Com a porta aberta
Nos redutos profundos
De um silêncio.

terça-feira, 23 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

21/março/2010 - 01:32 h

Quero lhe contar algo muito especial: essa noite voei com os pássaros! Sim, verdade... Eles iam alto e eu logo atrás. Não entendi como atingi tamanha altura, sem ter asas ou qualquer compartimento “moderno” que pudesse me fazer atingir essa altitude.
Meus olhos brilhavam a todo instante e um sorriso aventureiro surgia como se a jornada fosse ser contemplada por fogos de néon transcendentais, que fosse chover algodão doce e todo o chão pudesse ser colorido (não podia ver meus próprios olhos, mas sabia que brilhavam!)... Ahhhhh, era colorido que via tudo lá de cima...
Uns pontinhos luminosos se aproximavam, me assustei um pouco, vieram arrepio, desconfiança e medo... Reverberou-se em um tremendo frio... Pufff – estava na terra novamente!!
-Cadê os pássaros? Cadê os assustadores pontinhos luminosos??
Comecei a caminhar, o fato de ter caído bruscamente do flutuante (literalmente) estado anterior, fez com que não fizesse diferença o caminho pelo qual andava. Antes de saber como havia parado no céu, voltei para esse lugar no qual me encontro há tanto tempo... Uma árvore! E entre suas inúmeras folhas pude ouvir um canto (nobre canto!)... Folhas escuras e pequeninos sinais de flores chegando... ou flores que já se foram – afinal: iniciava-se outono!
Ah, a curiosidade estimulada pela harmoniosa melodia... Eram vários sons... Encostei-me de costas na árvore... Me questionava sobre a esquisitice de um sábado cheio de sol e me lembrava que minha mãe devia ter limpado a casa bem cedo, feito um café do qual não me agrada muito e que meu coração sentiu sua falta... (dia comum... dia de saudade!)...
Fechei os olhos. Dizem que fechar os olhos nutre a imaginação, e poderia ter sido ela o agente de viagens que me levou junto, com os pássaros (aeromoças de asas). Novo arrepio, aliás, vários... Fortes e constantes que me faziam sentir o couro cabeludo atingindo uma nova dimensão. O respirar tornou-se ofegante, a sensação era forte e a pressão parecia fazer a força gravitacional mais forte ainda – sentei!
Ainda com olhos fechados ouvi o canto se aproximando. Será que ele escutou o acelerado batimento cardíaco agora mais intenso? Um leve toque foi sentido em minhas mãos (cravadas na grama com suas algumas folhas secas), não a levantei em retirada, era suave... Não quis também abrir os olhos, correr o risco de mais uma vez quebrar o sentido antes mesmo de poder entender...
Uma paz interior cresceu em uma proporção inexplicável... O canto já havia me hipnotizado, mas percebi que ele se afastou, afastou, afastou... Até que só restaram vestígios da melodia já internalizada... Abri os olhos lentamente. O respirar acalentado e um corpo leve (quase o mesmo que voava...), olhei ao redor e nada de diferença se encontrava por ali. Toquei a árvore com as mãos, aproximei a face para sentir o aroma... Um impulso me fez checar o outro lado, uma marca...
“ACREDITE”! Marcado com alguma pedra pontiaguda... ou quem sabe com um athame ou canivete mesmo... Fechei novamente os olhos, me veio a imagem da menina mulher voando com os pássaros, feliz no início pela aventura de sentir-se livre, em um lugar cheio de energias peculiares, e a quebra pelo medo de se aproximar do desconhecido...
Foi como se um espelho tivesse sido colocado diante meus olhos... percebi que a metáfora vivida com tanta realidade por meu corpo/alma/espírito, era uma premissa do que de fato me faz agir diante as dificuldade de escolher... Escolher!!
Acreditar que sou capaz de mover moinhos, acreditar que dentro de mim tem um universo de possibilidade... Acreditar firmemente que se “cair do céu”, independente da altitude, terá um canto para acalentar e uma árvore para renovar as energias, revitalizar, fazer-me levantar e continuar caminhando...
Respirei profundamente, abri os olhos (internos e externos), retirei da roupa algumas folhas grudadas... Escolhi a estrada que deveria tomar... -É essa! Sussurrei pra mim mesma... E prossegui em meu caminho.